Vila Nova de Famalicão

A Quinta Conde dos Arcos e os outros hotspots de Lisboa

No dia cinco de outubro, foi criado o 68.º hotspot do concelho de Lisboa: a Quinta Conde dos Arcos.

A quinta é propriedade da Câmara Municipal de Lisboa, tem uma área de 9,45 ha, e encontra-se aberta ao público das 6h30 até às 20h, de outubro a março, e até às 22h no resto do ano.

Com 36 listas (17 delas completas, 21h de esforço total) e 50 espécies desde quatro de junho, o novo hotspot entrou para a posição 54 do concelho em número de espécies. O número máximo de espécies por lista foi 32, sendo de destacar as concentrações de papa-moscas-preto (até 40 indivíduos) provavelmente relacionadas com a abundância de dípteros. Aves menos comuns, detetadas em dispersão ou migração, incluíram andorinha-das-rochas, papa-amoras-comum, toutinegra-de-bigodes, rouxinol-pequenos-dos-caniços, etc. É de destacar ainda a abundância de alguns residentes, como o exótico bico-de-lacre, de que se registaram até 50 indivíduos e juvenis recém-voadores em outubro.

A propósito deste novo hotspot, fez-se uma revisão da informação sobre o concelho de Lisboa disponível no portal. Para Lisboa, existem 24.403 listas da autoria de 3.051 eBirders. Nessas listas, figuram um total de 211 espécies (contando exóticas estabelecidas e provisionais, mas não 23 espécies consideradas fugas de cativeiro), parte das quais registadas nos 68 hotspots. Há, no entanto, problemas de alocação de hotspots ao concelho e hotspots sobrepostos geograficamente.

Os hotspots com problemas de alocação ao concelho (segundo CAOP/DGT 2023) são: Parque do Tejo (em Lisboa, mas alocado a Loures) e Foz do Rio Trancão (margem esquerda em Loures e direita em Lisboa, mas alocado apenas a Loures). O Parque do Tejo adiciona 19 espécies à lista de Lisboa (excluindo 2 fugas de cativeiro), o que eleva o total para 230 espécies. Na Foz do Rio Trancão já foram registadas mais 10 espécies que, no eBird, não estão dadas nem para o concelho de Lisboa, nem para o Parque do Tejo. Isso aponta para um total de 240 espécies, embora fosse bom confirmar que essas 10 espécies já foram vistas na margem direita do Rio Trancão. Relativamente a hotspots sobrepostos, no concelho de Lisboa, isso só acontece no Parque Florestal de Monsanto. Existe um hotspot denominado “PF Monsanto–área geral” e outros oito que se sobrepõem a ele. Cruzando os dados desses nove hotspots, verifica-se que em Monsanto já foram registadas 115 espécies em 864 listas. Resolvidas essas duas questões, já é possível hierarquizar os hotspots do concelho com mais rigor.

O top três de hotspots é o mesmo, quer se considerem o número de espécies ou o número de listas: Foz do Rio Trancão (180 espécies, 1576 listas), Parque do Tejo (175, 1310) e Jardim do Cabeço das Rolas (116, 1221). Ou seja, mais listas permitem registar mais espécies. Isso aliado à riqueza da zona oriental do concelho, e em particular da respetiva frente ribeirinha.

Abaixo do top três surgem resultados mais inesperados, por exemplo, o quarto hotspot por número de listas é Campo de Ourique (1170 listas), com apenas 56 espécies. Isto mostra que, em áreas menos ricas, mesmo com esforço elevado, apenas se consegue um total de espécies modesto.

Na ordenação por número de espécies, os nove hotspots de Monsanto combinados surgem na quarta posição. Daí para baixo, merecem destaque a Tapada da Ajuda (110 espécies, 711 listas) e o Parque da Quinta das Conchas (109, 917), pela combinação de um elevado número de espécies com uma quantidade moderada de listas.

68 hotspots do concelho de Lisboa, numerados geograficamente (de Oeste para Este, e de Sul para Norte), com a Quinta Conde dos Arcos a vermelho. O tamanho dos círculos é proporcional ao número de espécies registado em cada hotspot até 05-out-2024. O nome abreviado dos hotspots é apresentado abaixo.

 

ID Hotspot ID Hotspot ID Hotspot ID Hotspot
01 Docapesca 18 PF Monsanto 35 Quinta das Conchas 52 Cais das Colunas
02 Caselas 19 Tapada da Ajuda 36 Cidade Universitária 53 Castelo de São Jorge
03 Torre de Belém 20 Palácio Burnay 37 Santos 54 José Gomes Ferreira
04 Praça do Império 21 Bensaúde 38 Parque Eduardo VII 55 Campo das Cebolas
05 Moinhos de Santana 22 Serafina 39 Alta de Lisboa 56 Bela Vista
06 Silva Porto 23 Calhau 40 Campo Grande 57 Vale de Chelas
07 Botânico Tropical 24 Alcoutins 41 Gulbenkian 58 Madre de Deus
08 Montes Claros 25 Necessidades 42 Príncipe Real 59 Quinta Pedagógica
09 Botânico da Ajuda 26 Sete Rios 43 Botânico UL 60 Vale Fundão
10 Luneta dos Quartéis 27 Calçada de Carriche 44 Coruchéus 61 Conde dos Arcos
11 Afonso Albuquerque 28 Campo de Ourique 45 Cais do Sodré 62 Jardins da EPAL
12 Estrada dos Arneiros 29 Monteiro-Mor 46 José Fontana 63 Braço de Prata
13 Vila Guiné 30 Amnistia Internacional 47 Arco do Cego 64 Cabeço das Rolas
14 Quinta da Granja 31 Estádio Universitário 48 C Mártires da Pátria 65 Cais da Matinha
15 Forte de Monsanto 32 Hospital Santa Maria 49 1º de Maio 66 Doca dos Olivais
16 Alameda Keil Amaral 33 Estrela 50 Fernando Pessa 67 Parque do Tejo
17 Quinta da Alfarrobeira 34 Praça de Espanha 51 Aeroporto 68 Foz Rio Trancão

 

Uma métrica útil para destacar a importância de áreas com menos esforço, seria o quociente entre o número de espécies e o número de listas. No entanto, há dois aspetos algo obscuros que condicionam essa utilidade: (1) o número de listas apresentado pelo eBird é o número de listas completas e, para o cálculo do total de espécies, também entram listas incompletas; e (2) o critério para considerar uma lista completa varia com o observador. Apesar das limitações da dita métrica, a sua utilização para ordenar os 68 hotspots poderá revelar áreas com elevado potencial. Embora com reservas, destacamos: Mata da Madre de Deus (36/6), Parque do Vale Fundão (38/8), Quinta Conde dos Arcos e Jardim da Estrada dos Arneiros (41/18).

Esta revisão da informação sobre o concelho de Lisboa disponível no portal serviu para enquadrar a criação do 68.º hotspot concelhio, mas servirá também para a revisão do Plano de Ação Local para a Biodiversidade de Lisboa (PALBL). O manancial de informação revista disponível no portal PortugalAves eBird, terá forçosamente de ser uma das bases da próxima versão do PALBL.

 

Luís de Oliveira Gordinho e Célia Jeremias (DAEAC/ CM Lisboa)