Presidente Getúlio

Atualização Taxônomica do eBird de 2024

Como parte de nosso compromisso com qualidade de dados, acessibilidade e facilidade no uso, nós nos esforçamos para utilizar uma única taxonomia integrada entre eBird, Macaulay Library, Birds of the World, Merlin e outros projetos do Laboratório de Ornitologia da Universidade de Cornell. Nossa atualização taxonômica de 2024 inclui 3 espécies recentemente reconhecidas (uma das quais foi recentemente descrita), 141 espécies adicionadas por conta de “splits” (divisões de um táxon em dois ou mais táxons) e 16 espécies perdidas devido a “lumps” (quando duas espécies, ou mais, são re-avaliadas como um único táxon). Isso resulta em um ganho líquido de 128 espécies e um novo total de 11.145 espécies de aves globalmente (de acordo com nossa taxonomia eBird/Clements).

O processo de atualização está em andamento — por favor, não comece a re-editar suas listas até que divulguemos que o processo foi finalizado. Isso inclui as listas do seu perfil, mapas de distribuição, gráficos de barra, regiões e listas de hotspots; o envio de dados deve estar funcionando normalmente, mas você acabar encontrando espécies inesperadas aparecendo nos Alertas do eBird ao passo que os eBirders aprendem a navegar a nova taxonomia (esse problema diminuirá com o tempo). Se você ver aves com nomes diferentes dos quais está acostumado, por favor, se refira a esse post para entender a mudança e por que ela ocorreu. Se você continuar vendo registros aparecendo de maneiras inesperadas, por favor, nos escreva.

Para que você possa entender melhor quais mudanças afetam os eBirders brasileiros, continue lendo abaixo quais espécies foram modificadas. Para informações completas das mudanças globais, confira aqui a Atualização Taxonômica de 2024 (artigo em EN).

 

NOVAS ESPÉCIES

A cada ano, algumas espécies recentemente descritas ou populações recentemente reconhecidas por suas características distintas são nomeadas e adicionadas à taxonomia do eBird/Clements. Isso mostra o quanto ainda existe por aí para ser descoberto sobre as aves do mundo! Detalhes específicos para cada uma delas podem ser vistos na página: Clements Updates & Corrections.

Uma das adições mais impressionantes desse ciclo é a recognição formal do anambé-de-rabo-branco (Tityra leucura) como espécie.

Essa espécie continuava como um dos mistérios da América do Sul. Um único espécime havia sido coletado em 1829 nas proximidades de Porto Velho – RO. Então, em 2006 um grande entendedor das aves amazônicas observou um indivíduo mas nenhum registro foi feito na data. O Comitê de Classificação Sul Americano (South American Classification Committee) revisou o caso, e notou o tamanho distintamente menor que o de outras cotingas e a cauda completamente branca. Contudo, apenas um espécime havia sido coletado, e como as cotingas são geralmente conspícuas em sua plumagem, alguns membros acreditaram se tratar de um anambé-de-rabo-preto aberrante.

No dia 08 de setembro de 2022, Bradley Davis, um revisor há anos para o eBird no Brasil, finalmente conseguiu capturar fotos e até um vídeo do misterioso anambé. Ele observou que era distintamente menor e  se movia com agilidade na copa das árvores, diferente de outros do gênero Tityra. Essa foi a prova necessária para confirmar a existência da  espécie depois de 195 anos de incerteza – embora a espécie ainda aguarda aprovação oficial do SACC (South American Classification Committee). Muito ainda permanece desconhecido sobre essa espécie, incluindo suas vocalizações, habitat, e a sua verdadeira distribuição de ocorrência.

  • Anambé-de-rabo-branco – White-tailed Tityra – (Tityra leucura)  [mapa] [fotos] [meus recordes]
    • DISTRIBUIÇÃO: interflúvio do Rio Madeira-Rio Tapajós, centro-sul do Brasil

 

SPLITS

As espécies abaixo foram separadas em mais de um táxon no eBird (split). Nós recomendamos que todos os eBirders revejam os splits abaixo e confiram seus recordes pessoais e os atualizem se acreditam que algum erro tenha sido feito em listas passadas. Por favor,  aguarde até a atualização ser completa para mudar qualquer coisa em listas antigas.

O Spot-bellied Bobwhite (Colinus leucopogon) que ocorre no norte da América Central foi separado do Uru-do-campo (Colinus cristatus), cuja distribuição cobre o sudoeste da Costa Rica, Panamá e grande parte do norte da América do Sul. No Brasil ocorre em Roraima, Amapá e norte do Amazonas.

  • Spot-bellied Bobwhite (Colinus leucopogon) [mapa] [fotos] [meus recordes]
    • DISTRIBUIÇÃO: América Central, do sul da Guatemala a  centro-oeste da Costa Rica
  • Uru-do-campo – Crested Bobwhite – (Colinus cristatus) [mapa] [fotos] [meus recordes]
    • DISTRIBUIÇÃO: sudoeste da Costa Rica a sudoeste da Colômbia, norte do Brasil, e nas Guianas

Diferenças vocais pronunciadas foram o principal motivo do split do Deconychura longicauda em D. typica, D. longicauda e D. pallida. A distribuição de cada uma dessas três populações é completamente segregada entre si, outro fator que leva a esse split.

  • Piping Woodcreeper Deconychura typica [mapa] [fotos] [meus recordes]
    • DISTRIBUIÇÃO: América Central desde sudeste de Honduras ao oeste do Panamá, leste do Panamá (Darien) e norte da Colômbia
  • Arapaçu-rabudo – Whistling Woodcreeper –  (Deconychura longicauda) [mapa] [fotos] [meus recordes]
    • DISTRIBUIÇÃO: Guianas e Brasil no norte do Rio Amazonas (do Rio Negro ao leste do Amapá)
  • Arapaçu-triste – Mournful Woodcreeper – (Deconychura pallida) [mapa] [fotos] [meus recordes]
    • DISTRIBUIÇÃO: noroeste da Amazônia brasileira, leste do Equador e Peru ao norte da Bolívia e oeste do Brasil

Em um caso semelhante ao dos arapaçus, diferenças vocais levaram a um split em três distintas espécies do Xenops minutus. As três novas espécies são:

  • Northern Plain-Xenops Xenops mexicanus [mapa] [fotos] [meus recordes]
    • DISTRIBUIÇÃO: Meio das Américas (do sul do México) ao noroeste da Colômbia, oeste do Equador, e extremo norte da Venezuela
  • Amazonian Plain-Xenops Xenops genibarbis [mapa] [fotos] [meus recordes]
    • DISTRIBUIÇÃO: Largamente distribuído na Amazônia, desde a parte tropical do leste da Colômbia, sul da Venezuela, e norte do Brasil ao norte da Bolívia
  • Atlantic Plain-Xenops Xenops minutus [mapa] [fotos] [meus recordes]
    • DISTRIBUIÇÃO: leste do Brasil ao leste do Paraguai e nordeste da Argentina

Observação: nomes em português ainda não estão atualizados e definidos para essas espécies, mas em breve estarão no eBird. Por agora, utilize “Amazonian Plain-xenops” para os registros de bico-virado-miúdo no norte do Brasil. Registros desde a Bahía até o sul do Brasil devem ser usados como “Atlantic Plain-xenops” até que o nome em português seja atualizado. A subespécie Xenops minutus alagoanus com distribuição no nordeste agora faz parte do táxon Xenops minutus (Atlantic Plain-xenops) como ssp. alagoanus. As subespécies remoratus e ruficaudus do norte do Brasil fazem parte do táxon Xenops genibarbis (Amazonian Plain-xenops).

O balança-rabo-de-chapéu-preto (balança-rabo-de-chapéu-preto/de-roraima/do-acre/do-nordeste) recebe uma nova espécie, o Marañon Gnatcatcher (Polioptila maior) endêmica do Peru. Embora nenhuma mudança afete diretamente aqui no Brasil, é possível que no futuro novos splits sejam realizados em relação às distintas subespécies de Polioptila plumbea, como é o caso da lista brasileira que já distingue as diferentes subespécies.  Em suas listas, é válido especificar qual subespécie foi observada, já que isso pode ajudar a entender melhor as distintas populações da espécie em relação a futuros splits.

  • Balança-rabo-de-chapéu-preto/de-roraima/do-acre/do-nordeste – Tropical Gnatcatcher – (Polioptila plumbea) [mapa] [fotos] [meus recordes]

Subespécies de Polioptila plumbea que ocorrem no Brasil:

  • Balança-rabo-de-roraima (Polioptila plumbea innotata) [mapa] [fotos
    • DISTRIBUIÇÃO: leste da Colômbia ao sul da Venezuela e extremo norte do Brasil (Roraima, oeste do Pará, norte de Tocantins, e centro-norte de Goiás)
  • Balança-rabo-de-chapéu-preto (Polioptila plumbea plumbea) [mapa] [fotos]
    • DISTRIBUIÇÃO: Guianas e parte leste do norte do Brasil (Rio Tapajós ao noroeste do Maranhão)
  • Balança-rabo-do-acre (Polioptila plumbea parvirostris) [mapa] [fotos
    • DISTRIBUIÇÃO: oeste da Amazônia, do sul da Colômbia ao sudeste do Peru (Madre de Dios) e leste adjacente ao Brasil (Acre e extremo oeste do Amazonas)
  • Balança-rabo-do-nordeste (Polioptila plumbea atricapilla) [mapa] [fotos
    • DISTRIBUIÇÃO: nordeste do Brasil (Maranhão ao Piauí, Ceará, Pernambuco, e Bahia)

Talvez o split mais esperado deste ano nas Américas seja o reconhecimento das distintas subespécies da famosa corruíra (Troglodytes aedon). A taxonomia de 2024 inclui 7 espécies de corruíra, que incluem 5 espécies endêmicas de ilhas: Cozumel Wren (Troglodytes beani), Kalinago Wren (Troglodytes martinicensis), St. Lucia Wren (Troglodytes mesoleucus), St. Vincent Wren (Troglodytes musicus); Grenada Wren (Troglodytes grenadensis).

Além delas, a nova taxonomia agora reconhece Northern House Wren (Troglodytes aedon) e Southern House Wren (Troglodytes musculus). Isso significa que nossa espécie de corruíra no Brasil agora é a Troglodytes musculus. Ainda que o nome oficial em português não tenha sido decidido nas plataformas do eBird ainda, você já pode utilizar “Southern House Wren” ou pelo nome científico “Troglodytes musculus”.

 

LUMPS e ESPÉCIES INVÁLIDAS

As espécies abaixo foram unidas em um único táxon (lump). Isso significa que suas distintas formas foram inválidas nessa taxonomia atualizada. Como isso significa que todos registros são automaticamente atualizados para a espécie única, lumps não requerem que usuários revisem seus registros.

Nessa taxonomia, os brasileiros podem se sentir tranquilos porque o único lump que nos afeta é o do bagageiro (Nesotriccus murinus). Antes dividido entre Northern Mouse-colored Tyrannulet (Nesotriccus incomtus) e Southern Mouse-colored Tyrannulet (Nesotriccus murinus) agora as duas espécies foram unidas em simplesmente bagageiro (Nesotriccus murinus). Observação que na taxonomia utilizada no Brasil, como por exemplo no WikiAves, o nome científico aparece como Phaeomyias murina. A taxonomia eBird/Clements utiliza uma forma distinta, mas se trata da mesma espécie.

 

MUDANÇAS NOS NOMES CIENTÍFICOS

 

Abaixo estão algumas espécies com ocorrência no Brasil cujos nomes científicos foram modificados. Por favor, reveja essas mudanças para se inteirar de como reportar essas espécies em suas listas.

Sanã-de-cara-ruiva: Laterallus xenopterus –> Rufirallus xenopterus

Sanã-de-cabeça-castanha: Rufirallus castaneiceps –> Anurolimnas castaneiceps

Pinto-d’água-carijó: Coturnicops notatus –> Laterallus notatus

Sanã-amarela: Hapalocrex flaviventer –> Laterallus flaviventer

Sanã-cinza: Porzana spiloptera –> Laterallus spilopterus

Garça-vaqueira: Bubulcus ibis –> Ardea ibis