Portugal

Um olhar para os andorinhões

A Identificação do andorinhão-preto, do andorinhão-pálido e do andorinhão-da-serra

Introdução

Ao fim de um agradável dia de verão, quem não se apercebeu ainda das ruidosas festas aéreas que os andorinhões fazem sobre as nossas cabeças, junto às suas colónias nas nossas cidades, vilas ou aldeias? Estas fascinantes aves são exímias voadoras, muito bem adaptadas ao meio aéreo onde se alimentam, dormem e passam a maior parte de sua vida, pousando praticamente só para nidificar. A sua fisionomia é muito característica, com um corpo aerodinâmico pequeno e com umas asas longas e pontiagudas, em forma de foice. As suas pernas e patas, pouco utilizadas, são muito pequenas, o que deu origem ao nome da sua ordem – Apodiformes – “sem pés”.
Para um observador de aves, a silhueta de um andorinhão é facilmente reconhecida. No entanto, conseguir identificar as espécies de andorinhões, particularmente as que são mais semelhantes entre si, pode ser um grande desafio. São aves que têm um voo rápido e irregular, que não permite a percepção dos detalhes e são geralmente observadas contra a luz do céu.
De entre as várias espécies de andorinhões que existem em Portugal continental, este artigo centra-se nas três espécies que são mais semelhantes entre si: o andorinhão-preto, o andorinhão-pálido e o andorinhão-da-serra, procurando-se fazer uma síntese de alguns dos principais aspetos que as caracterizam, com o objetivo de ajudar na sua identificação.
O andorinhão-preto (nome científico – Apus apus), é apontado como a espécie mais comum e melhor distribuída pelo território de Portugal continental, com maior prevalência na metade norte do país. O andorinhão-preto tem duas subespécies que apresentam diferenças entre si, o Apus apus apus e o Apus apus pekinensis, sendo o A. a. pekinensis muito confundível com o andorinhão-pálido. Aqui é tratado apenas o A. a. apus que é a subespécie existente em Portugal.
O andorinhão-pálido (Apus pallidus), é igualmente uma espécie bastante comum de norte a sul, com mais registos pela faixa litoral e no interior a norte do rio Tejo, ocorrendo também na ilha da Madeira. Este andorinhão tem três subespécies, o Apus pallidus brehmorum, o Apus pallidus ilyricus e o Apus pallidus pallidus. Desta espécie aqui é tratada apenas a subespécie A. p. brehmorum, que é a que existe em Portugal.
O andorinhão-da-serra (Apus unicolor), espécie endémica dos arquipélagos da Madeira e das Canárias, foi recentemente identificado em Portugal continental e atualmente são conhecidos pequenos núcleos desta espécie nas cidades do Porto e de Lisboa.
Salienta-se que muitas das características destes andorinhões são sobreponíveis entre eles e variavelmente interpretadas consoante as condições de observação. Isto significa que é necessário muito cuidado para chegar à identificação de qualquer uma destas espécies com base em pouca informação, pois podemos muitas vezes estar a ser induzidos em erro pelas condições de observação.

Período da presença destes andorinhões em Portugal continental

O andorinhão-preto está entre nós na época de reprodução, podendo-se alargar um pouco mais o período da sua observação com indivíduos reprodutores na Europa, que na sua migração para sul passem por Portugal. A generalidade dos andorinhões-pretos que se reproduzem em Portugal chega ao sul do país em inícios de abril e ao norte até duas ou três semanas depois. Anualmente fazem a criação de uma ninhada, permanecendo nos territórios de reprodução durante cerca de noventa a cento e dez dias. Em julho começam a abandonar os locais de reprodução no sul do país, e em inícios de agosto no norte. A passagem migratória de aves desta espécie que nidificam mais a norte na Europa dá-se nos meses de abril, para norte (provavelmente não passando por Portugal) e de agosto a inícios de setembro, para sul (podendo passar por Portugal). O período normal da observação de andorinhões-pretos em Portugal vai de inícios de abril a inícios de setembro.
O andorinhão-pálido está entre nós na época de reprodução. Chega ao sul do país durante o mês de março e ao norte nos finais deste mês e durante o mês de abril. Esta espécie faz a criação de duas ninhadas anualmente, permanecendo na sua área de reprodução cerca de cento e cinquenta a cento e noventa dias. O período normal de observação desta espécie em Portugal é de março a outubro. Os andorinhões-pálidos do sul do país reproduzem-se e partem para África mais cedo do que os do norte.
O andorinhão-da-serra, é uma espécie parcialmente migratória, em que algumas aves migram para África após terminarem a reprodução enquanto outras permanecem perto das suas colónias ao longo de todo o ano utilizando os locais dos ninhos para dormir durante o inverno. O andorinhão-da-serra foi recentemente descoberto em Portugal continental, onde parece ter números muito baixos, principalmente no inverno.

Silhueta/Dimensões

Estruturalmente, estas três espécies são muito semelhantes. Só uma observação de perto, com alguma duração, com bons ângulos e boas condições de luz poderá deixar perceber os pequenos detalhes que as diferenciam.
O andorinhão-preto (17,5 cm) e o andorinhão-pálido (17 cm) têm dimensões muito próximas um do outro, enquanto o andorinhão-da-serra (15 cm) é de dimensões ligeiramente inferiores. Numa observação de perto, é possível perceber o tamanho mais pequeno e aspeto mais esguio do andorinhão-da-serra.
O corpo do andorinhão-preto é o mais forte/arredondado, com o aspeto mais pesado entre estas três espécies. O andorinhão-pálido é muito semelhante ao andorinhão-preto, na forma do corpo, embora seja ligeiramente mais adelgaçado. Estas duas espécies apresentam um corpo proporcionalmente mais curto e aspeto menos alongado do que o andorinhão-da-serra. O corpo do andorinhão-da-serra é um pouco mais esguio, com aspeto mais alongado em especial na parte posterior, dando-lhe a imagem de um perfil mais regular e aerodinâmico.
As asas do andorinhão-preto são mais uniformemente esguias do que as asas do andorinhão–pálido. Este último apresenta uma “mão” mais larga (P7, P6 e P5 são maiores no A. pallidus do que no A. apus). O andorinhão-da-serra tem também as asas esguias, semelhantes ao andorinhão-preto, mas com a forma de foice aparentemente menos acentuada.
A forma da cabeça no andorinhão-preto e andorinhão-pálido é bastante semelhante, sendo aparentemente um pouco mais larga no andorinhão-pálido. A cabeça do andorinhão-da-serra apresenta um aspeto mais arredondado, com a testa mais proeminente, um bico e pescoço mais curtos. O supercílio do andorinhão-da-serra mostra-se menos evidente, dando muitas vezes a sensação de esta espécie ter os olhos mais salientes do que os das outras duas espécies em comparação direta.
A bifurcação da cauda é muito semelhante entre as três espécies e só em breves momentos, quando no voo os andorinhões têm a cauda um pouco aberta, é que é possível avaliar a profundidade da bifurcação. No andorinhão-preto (cerca de 30 mm) é um pouco mais profunda do que no andorinhão-pálido (cerca de 26 mm). No andorinhão-da-serra (cerca de 28 mm), esta bifurcação é relativamente mais profunda, dado que é uma ave mais pequena. Neste andorinhão, a parte posterior do corpo mais estreita dá-lhe o aspeto de ter uma cauda mais alongada.

Proporções do andorinhão-preto, andorinhão-pálido e andorinhão-da-serra.

Tipo de voo

Também no voo estas três espécies são muito semelhantes, mas um olhar atento aos andorinhões e às condições do ar, pode tornar possível perceber algumas diferenças quando a observação é feita em boas condições. Os andorinhões apresentam vários tipos de voo, conforme as condições do ar e conforme estejam em alimentação, em comportamentos sociais, em deslocação, ou em cuidados com a plumagem, podendo variar bastante na frequência do batimento de asas, na duração do voo planado e na velocidade de deslocação que vai de aproximadamente 20 a 200 km/h.
Destas três espécies o andorinhão-preto é a que apresenta um tipo de voo intermédio relativamente ao andorinhão-pálido e ao andorinhão-da-serra. O andorinhão-pálido apresenta um voo mais decidido e mais previsível com maior aproveitamento das condições aerológicas para o voo planado. Geralmente, este apresenta trajetórias mais regulares e utiliza menos tempo de batimento de asas. Há no entanto situações em que o andorinhão-pálido pode ser observado num voo rápido e irregular, como por exemplo, quando se desloca em voo baixo contra um vento moderado ou forte. O andorinhão-da-serra é o que apresenta um voo mais acrobático, irregular e imprevisível. Utiliza mais tempo de batimento de asas e menos tempo de voo planado do que o andorinhão-preto. Com o seu rápido batimento de asas faz frequentemente bruscas mudanças de direção e grandes inclinações laterais do corpo, enquanto se alimenta a baixa altura ou voa entre obstáculos.

Andorinhão-da-serra (Apus unicolor), Porto, Portugal, 06/09/2021, Paulo Belo – eBird Checklist S94277612 e 17/08/2021, Bárbara Morais – eBird Checklist S94539788. É frequente ver o andorinhão-da-serra num voo acrobático, com bruscas mudanças de direção, momentaneamente lateral ou invertido.

Plumagem

É difícil observar com detalhe os pormenores da plumagem dos andorinhões. São espécies de voo veloz e ágil e observam-se geralmente a alguma distância e em contraluz no céu.

PARTICULARIDADES

Coloração

Vistos de longe, em praticamente todas as condições de luz, os andorinhões destas três espécies parecem ser uniformemente pretos. Como são geralmente observados em contra luz, a avaliação da sua verdadeira cor é muito complicada, podendo cada observador interpretar e descrever as cores de forma diferente. Devemos ainda considerar que existem variações entre indivíduos da mesma espécie e que em todos eles os tons vão variando com o progressivo desgaste da plumagem, que se vai tornando mais clara.
O andorinhão-preto é o mais escuro, com tons de preto no corpo, tons cinzentos muito escuros nas penas de voo e uma pequena mancha branca na garganta. Embora seja bastante difícil de avaliar, nesta espécie há um efeito de “reflexo/brilho”, principalmente nas penas de voo, que se observa com mais intensidade do que no andorinhão-pálido e no andorinhão-da-serra.
O andorinhão-pálido é o menos escuro, com maiores variações na sua coloração que se baseia nos castanhos-escuros. A sua cabeça é mais pálida, contrastando com o corpo mais escuro. A mancha branca da garganta é, comparativamente, mais extensa do que nas outras duas espécies e a sua orla é difusa.
O andorinhão-da-serra é em todo o seu corpo uniformemente castanho acinzentado muito escuro, podendo apresentar uma difusa mancha cinza ou branco sujo na garganta. Tal como o seu nome indica – “unicolor” – esta espécie tem muito poucas variações de tons.

Aspeto “escamado” dado pelas orlas das penas do corpo

Este aspeto de escamas é dado pela coloração mais clara nas orlas das penas da parte inferior do corpo dos andorinhões. Pode ser mais ou menos visível consoante os ângulos de luz e a quantidade de luz que incide por baixo da ave. Geralmente só quando há uma boa incidência de luz por trás e por baixo da ave é que o contraste do escamado se torna mais evidente.
O andorinhão-preto é o que apresenta um escamado menos óbvio e mais difícil de perceber entre estas três espécies. Difere dos outros pelo facto desta característica se perceber melhor nas coberturas infra-caudais, menos no corpo e ser pouco perceptível nos flancos.
O andorinhão-pálido deixa perceber um escamado mais evidente no corpo, incluindo os flancos e tornando-se um pouco menos evidente nas coberturas infra-caudais.
O andorinhão-da-serra mostra um escamado discreto em toda parte inferior do corpo, que também se torna menos perceptível nas coberturas infra-caudais.

Cabeça

Como nas outras características, existe uma variação individual e, acima de tudo, uma variação das condições de luz e de observação, que podem dar diferentes percepções dos tons da cabeça dos andorinhões. No entanto, a observação da cabeça é uma condição muito importante para ajudar na identificação, principalmente quando é feita observação da ave em voo. Reforça-se que, para o observador, a percepção da mancha da garganta destas aves pode variar muito conforme as condições de luz.
A cabeça do andorinhão-preto apresenta uma coloração escura que não se destaca do corpo. Na garganta tem uma pequena mancha branca, normalmente bem definida, que não passa para trás do olho. A testa é muitas vezes acinzentada, um pouco mais clara do que o resto da cabeça.
O andorinhão-pálido é o que apresenta uma cabeça mais contrastada com o corpo, podendo ser este um dos mais importantes elementos para a sua identificação. A sua cabeça é mais clara do que o corpo, com pálido na testa e uma mancha branca ou branco sujo na garganta, que é maior e mais evidente do que no andorinhão-preto e que termina em orlas difusas. As partes mais claras da garganta e da testa envolvem os abrigos escuros em frente aos olhos, criando a impressão de uma forte máscara negra, sendo esta uma importante característica identificativa desta espécie.
O andorinhão-da-serra é o que apresenta a coloração da cabeça mais homogénea relativamente ao corpo. Geralmente, não é perceptível qualquer contraste, para além da mancha mais clara e difusa na garganta, a qual muitas vezes é inexistente ou imperceptível.

Parte inferior da asa

As coberturas das penas de voo mostram variações de tons entre as grandes coberturas e as médias e pequenas coberturas, que influenciados pela incidência de luz podem dar diferentes impressões, dificultando a perceção das diferenças nas três espécies em análise.
No andorinhão-preto é geralmente possível perceber um claro contraste entre as grandes coberturas e as médias e pequenas coberturas, que são mais escuras, destacando-se uma mancha oval mais negra na asa. As grandes coberturas apresentam os mesmos tons das penas de voo.
No andorinhão-pálido geralmente não se verifica esta mancha mais escura. Os tons das coberturas são idênticos entre si e iguais aos das penas de voo.
O andorinhão-da-serra tende a apresentar uma cor uniforme na maior parte dos ângulos, mas, em algumas posições, as médias e pequenas coberturas mostram-se discretamente mais escuras do que as grandes coberturas que, por sua vez apresentam tons semelhantes às penas de voo.
Quando são observados com luz forte, os andorinhões mostram um aspeto translúcido nas penas de voo, que é mais acentuado nas primárias mais interiores e nas secundárias, quando a asa está mais aberta. Este aspeto translúcido é menos visível no andorinhão-pálido, algo mais evidente no andorinhão-preto e é mais evidente no andorinhão-da-serra.

Parte superior da ave

São muito difíceis de observar os detalhes de variações de cor na parte superior dos andorinhões, mas em condições ótimas isto é possível e o andorinhão-pálido é o que apresenta características mais particulares, com maiores diferenças.
O andorinhão-da-serra e o andorinhão-preto apresentam tons uniformemente escuros na parte superior da ave: corpo e asas, sendo geralmente mais uniformes no andorinhão-da-serra.
O andorinhão-pálido deixa perceber diferentes tons na parte superior do corpo. As penas do corpo entre as asas são mais escuras, dando um efeito de sela. Nas asas, as coberturas das penas de voo são mais claras e as primárias mais exteriores são novamente mais escuras.

Aves juvenis

A oportunidade de observação de andorinhões juvenis está reduzida pelo facto de não permaneceram na área de reprodução após a saída do ninho. Os juvenis das três espécies apresentam franjas mais claras nas orlas das penas do corpo, coberturas e também nas penas de voo, que se desgastam e desaparecem ao longo do primeiro outono/inverno. O juvenil do andorinhão-preto é o que apresenta maiores contrastes, com bastante branco na garganta e na testa, confundindo-se facilmente com o andorinhão-pálido adulto. O juvenil de andorinhão-preto apresenta também algum branco nos “ombros” ou bordo de ataque da asa.

Vocalizações

Muitas vezes não é possível escutar os andorinhões ao longo do dia, dado que normalmente só são mais vocais ao início e ao final do dia. Quando se encontram nas suas “festas de grupo” junto às suas colónias, que ocorrem especialmente no início da época de reprodução e em dias mais quentes. Os chamamentos destas três espécies são algo diferentes entre elas, o que faz com que este seja um elemento muito importante na sua identificação. Escutar os andorinhões e perceber as diferenças entre as espécies no terreno pode ser difícil, exigindo um bom ouvido e uma boa experiência para o fazer, mas a possibilidade de obter a gravação das suas vocalizações pode significar só por si a conquista de uma identificação segura. Através da interpretação de sonogramas conseguimos perceber com clareza algumas diferenças no padrão dos chamamentos entre estas três espécies.
O andorinhão-preto, apresenta um chamamento um pouco mais agudo do que o andorinhão-pálido, mostrando uma variação que corresponde a um aumento de frequência no início e à sua diminuição no final.
O chamamento do andorinhão-pálido é um pouco menos agudo e mostra uma variação de frequência com uma oscilação na parte inicial e outra na parte final.
O chamamento do andorinhão-da-serra é mais agudo e é o mais prolongado entre estas três espécies, tendo uma parte final em que há uma subida e depois uma descida abrupta de frequência.

Andorinhão-preto (Apus apus), Andalucía, Spain, 3/07/2021, Sergio Mayordomo – eBird Checklist S91157834.

Andorinhão-pálido (Apus pallidus), Faro, Portugal, 10/05/2020, Nelson Conceição – eBird Checklist S68828386.

Andorinhão-da-serra (Apus unicolor), Porto, Portugal, 18/04/2021, Paulo Belo – eBird Checklist S85857860.

Análise de fotografias

Quando procuramos ver algo escuro num fundo claro, ou vice-versa, torna-se difícil perceber detalhes até para o olho humano. Para equipamentos de captura de imagem é ainda mais complicado. Contra a luz do céu, o que é escuro fica mais escuro. Para a análise de fotografias de andorinhões temos de ter em consideração a grande variabilidade dos equipamentos (de captura e de visualização das imagens), das condições de luz, da exposição, das incidências, dos ângulos, da distância, das velocidades… Facilmente, um mesmo andorinhão pode parecer muito diferente em duas fotografias tiradas numa mesma observação.

Andorinhão-preto (Apus apus), Montalegre, Portugal, 17/06/2017, Paulo Belo – eBird Checklist S99805753. Quatro imagens retiradas de um filme, num espaço de tempo de 6 centésimas de segundo (meio batimento de asas), onde se observa a variação de tons/reflexos que podem dar uma ideia diferente da coloração das asas da ave, apenas conforme mudam de posição.

Andorinhão-da-serra (Apus unicolor), Lisboa, Portugal, 28/11/2021, Mário Estevens – eBird Checklist S98219113. Estas duas fotografias são da mesma ave, obtidas numa mesma ocasião, percebendo-se como podem variar os resultados das fotografias e da nossa percepção, apenas com as pequenas variações de luz e dos seus ângulos de incidência.

Fotografar andorinhões é muito difícil e conseguir uma boa fotografia é um verdadeiro desafio. Atualmente, com a tecnologia existente é cada vez mais acessível conseguir imagens destas aves, as quais podem significar uma ajuda determinante na sua identificação.
O estudo de fotografias de andorinhões é um aconselhável exercício para melhoria da nossa capacidade de identificação, mas é bom ter a consciência de que, mesmo após muitas horas e milhares de fotografias analisadas nesta pesquisa, continuaremos com a frustrante sensação de dúvida em muitas delas. Poucas são as fotografias em que encontramos as “características de livro” que procuramos.
De seguida deixa-se uma seleção de algumas fotografias de andorinhões, onde é possível perceber alguns dos aspetos distintivos destas três espécies, os quais serão comentados em cada uma das fotografias.

Andorinhão-preto (Apus apus), Setúbal, Portugal, 06/05/2021, Luís Arinto – eBird Checklist S87262753 e Faro, Portugal, 22/05/2021, Luís Arinto – eBird Checklist S69687885. Nestas duas fotografias observa-se a tonalidade mais clara das penas de voo, em comparação com as penas do corpo e com as médias e pequenas coberturas, que formam uma mancha oval mais escura na asa. Entre as grandes e as médias e pequenas coberturas há uma clara diferença, que é típica do andorinhão-preto. Aqui observa-se também o pequeno remendo branco na garganta, bem definido sem passar para trás da linha do olho. O escamado, que poucas vezes é observável no andorinhão-preto, nestas fotografias é bem perceptível, mostrando-se mais acentuado nas coberturas infra-caudais. Salienta-se que estas duas fotografias têm uma forte luz sobre as aves e exposição muito boa, mostrando tonalidades bastante claras e um realçado aspeto translúcido nas penas de voo, que geralmente são difíceis de obter em fotografia ou de perceber na observação direta dos andorinhões.

Andorinhão-preto (Apus apus), Chaves, Portugal, 16/05/2020, Paulo Belo – eBird Checklist S69129018. Estas duas fotografias com pouca qualidade por serem imagens retiradas de um filme, mostram ainda assim o contraste das penas do corpo e das médias e pequenas coberturas nas asas, mais escuras relativamente às penas de voo e às grandes coberturas. Provavelmente em consequência da luz forte que incide de frente para a ave, observa-se bem a garganta branca e notam-se a face e a testa bastante esbranquiçados. Este aspeto esbranquiçado na face e na testa poderia corresponder a um indivíduo juvenil desta espécie, mas tal ainda não seria possível na data desta observação.

Andorinhão-preto (Apus apus), Chaves, 16/05/2020, Paulo Belo – eBird Checklist S69129018. Este andorinhão é o mesmo indivíduo das fotografias anteriores. Com uma incidência de luz mais forte na parte inferior da ave continua a ser bem perceptível o contraste entre as penas de voo e grandes coberturas, mais claras do que as penas do corpo e do que as médias e pequenas coberturas, que são mais escuras. O brilho das asas é uma característica que costuma ser mais evidente no andorinhão-preto do que no andorinhão-pálido e no andorinhão-da-serra.

Andorinhão-preto (Apus apus), Miranda Douro, Portugal, 24/06/2017, Paulo Belo – eBird Checklist S99806650. Neste caso existia uma luz fraca de início do dia, continuando ainda assim a ser perceptível o contraste entre as penas de voo, que são mais claras do que as penas do corpo e as médias e pequenas coberturas, que são mais escuras. A luz de frente para a ave mostra a pequena mancha branca bem definida na garganta e dá também para perceber a testa mais clara do que a cabeça, apenas na parte em frente aos olhos. A fraca luz da manhã e o fundo de pedra, dão a percepção de tonalidades diferentes das geralmente percebidas contra a luz do céu.

Andorinhão-pálido (Apus pallidus), Pedras Salgadas, Portugal, 03/08/2021, Paulo Belo – eBird Checklist S92695152. Nestas fotografias observam-se algumas importantes características do andorinhão-pálido: a mancha branca na garganta, grande e difusa, prolongando-se um pouco mais atrás do que o olho; a testa pálida; a contrastante “máscara”; o escamado bem evidente no corpo; a falta de contraste entre as penas do corpo e médias e pequenas coberturas, com as penas de voo; as primárias mais exteriores que apresentam tons mais escuros do que as primárias mais interiores e do que as secundárias.

Andorinhão-pálido (Apus pallidus), Vila Pouca de Aguiar, Portugal, 18/05/2014, Paulo Belo – eBird Checklist S64501741. Estas fotografias mostram também com clareza algumas características do andorinhão-pálido: a mancha branca na garganta, grande e difusa, prolongando-se um pouco mais atrás do que o olho; a testa pálida prolongando-se sobre o olho; a “máscara” bem evidente; a falta de contraste entre as penas do corpo e médias e pequenas coberturas, com as penas de voo; os tons mais escuros nas primárias mais exteriores, no lado superior e no lado inferior da asa; as penas um pouco mais escuras no manto (dorso), entre as asas, que dão o muitas vezes descrito “efeito de sela”. Note-se que estas características geralmente são bastante mais difíceis de perceber numa observação contra luz.

Andorinhão pálido (Apus pallidus), Vila Franca de Xira, Portugal, 28/06/2020, Rui Pereira – eBird Checklist S70922633 e juvenil de Andorinhão-preto (Apus apus), Faro, Portugal, 12/08/2020, Nelson Fonseca – eBird Checklist S72333696. O andorinhão-pálido da fotografia à esquerda é uma ave adulta que transporta alimento para filhos. Mostra bem a cabeça pálida e a contrastante “máscara”. São também bem evidentes nesta fotografia os tons mais escuros no manto, entre as asas, e os tons mais escuros das primárias mais exteriores. Na fotografia da direita este juvenil de andorinhão-preto mostra bem um contrastante branco na garganta e na face, deixando o escuro do olho destacado, que o torna facilmente confundível com o andorinhão-pálido. Neste juvenil de andorinhão-preto observa-se também o típico branco dos “ombros” e das orlas das coberturas. Estes brancos das asas vão desaparecendo com o desgaste no final do verão e/ou no início do outono.

Andorinhão-preto (Apus apus) e Andorinhão-pálido (Apus pallidus), Aveiro, Portugal, 04/05/2021, Paulo Belo – eBird Checklist S87148385. Nestas duas fotografias, em que as aves estavam muito distantes, conseguem-se ainda assim observar algumas das principais características apontadas nas fotografias anteriores, que permitem perceber algumas diferenças entre as duas espécies.

Andorinhão-da-serra (Apus unicolor), Porto, Portugal, 06/08/2021, Bárbara Morais – eBird Checklist S93005451 e 11/09/2021, Bárbara Morais – eBird Checklist S94539980. Nestas fotografias de andorinhão-da-serra observa-se o aspeto esguio típico desta espécie. As tonalidades variam consoante a incidência e intensidade da luz, mas percebe-se a coloração bastante uniforme destas aves. Na fotografia da esquerda a forte iluminação de frente para a ave destaca tons mais claros na garganta, mal definidos e bastante difusos. A incidência de luz na parte inferior da asa mostra o contraste das médias e pequenas coberturas, que são mais escuras tal como acontece no andorinhão-preto, embora normalmente isto seja menos evidente no andorinhão-da-serra. Na fotografia da direita observa-se o aspeto translúcido das primárias e secundárias, mesmo com a luz a incidir por baixo da ave.

Andorinhão-da-serra (Apus unicolor), Lisboa, Portugal, 01/02/2022, Rui Pereira – eBird Checklist S101835501. Estas fotografias permitem também perceber o aspeto esguio e alongado do andorinhão-da-serra, com a cabeça arredondada. Nota-se o supercílio pouco evidente e os olhos parecem ser mais salientes comparativamente ao andorinhão-preto e ao andorinhão-pálido. Nota-se na ave da esquerda o aspeto translúcido das primárias e secundárias que estão na sombra.

LINKS PARA VÍDEOS DE ANDORINHÕES DESTAS ESPÉCIES

Andorinhão-preto – listas com diferentes vídeos onde também podem ser escutadas as suas vocalizações:
https://ebird.org/checklist/S99805753Apus apus, Montalegre, 17/06/2017
https://ebird.org/checklist/S99806650Apus apus, Miranda Douro, 24/06/2017
https://ebird.org/checklist/S38622139Apus apus, Lagoa de Sto. André 11/082017
https://ebird.org/checklist/S69129018Apus apus, Chaves, 16/05/2020

https://www.youtube.com/watch?v=r03btj6XXIU – Jean-François Cornuet, “TRIBUTE TO THE COMMON SWIFT”

Andorinhão-pálido – listas com vídeos onde também podem ser escutadas as suas vocalizações:
https://ebird.org/checklist/S64501741Apus pallidus, Vila Pouca de Aguiar, 18/05/2014
https://ebird.org/checklist/S89011393Apus pallidus, Aveiro, 25/05/2021

https://www.youtube.com/watch?v=EOupEedbk9Q – Jan Studecký, Pallid Swift

Andorinhão-da-serra – nestas listas, além de vídeos, também encontramos vocalizações desta espécie:
https://ebird.org/checklist/S99075637Apus unicolor, Porto, 18/12/2021
https://ebird.org/checklist/S85076978Apus unicolor, Porto, 07/04/2021

LINKS PARA ARTIGOS DE IDENTIFICAÇÃO DESTAS ESPÉCIES

Identification of Western Palearctic swift’s – Philip Chantler
https://www.dutchbirding.nl/journal/pdf/DB_1993_15_3.pdf#page=7

Common, Asian Common and Pallid Swift: colour nomenclature, moult and identification
https://www.researchgate.net/publication/318600344_Common_Asian_Common_and_Pallid_Swift_colour_nomenclature_moult_and_identification

Separating adult Pallid Swift from Common Swift
http://andybutlerdiaries.blogspot.com/2016/06/sw-spain-portugal.html

Common and Pallid Swifts
https://www.birdguides.com/articles/focus-on-common-and-pallid-swifts/

ALGUMAS DAS FONTES CONSULTADAS

Åkesson, S. et al, 2020, Evolution of chain migration in an aerial insectivorous bird, the common swift Apus apus
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/evo.14093

Chantler, P 1993. Identification of Western Palearctic swifts. Dutch Birding 15: 97-135.

Chantler, P & Driessens, G 1999. Swifts. A Guide to the swifts and treeswifts of the world. Mountfield.

Cramp, S (ed) 1985. The birds of the western Palearctic 4. Oxford.

Duivendijk, N. V., 2011, ADVANCED BIRD ID HANDBOOK The Western Palearctic, New Holland Publishers (UK) Ltd

eBird.org, 2021, The Cornell Lab of Ornithology (análise de registos de A. apus, A. pallidus e A. unicolor)

Hedenström, A, Norevik, G, Warfvinge, K, Andersson, A, Bäckman, J & Åkesson, S 2016. Annual 10-month aerial life phase in the common swift Apus apus. Current Biology 26: 3066-3070.

Lack, D., 2018 (1956). SWIFTS IN A TOWER, Unicorn Publishing Group LLP, London

Larsson, H., 2018. The identification of juvenile Common and Pallid Swifts, British Birds, vol. 111, issue 6.

Laurent Demongin, 2016. Identification Guide to Birds in de Hand, Beauregard-Vendon.

Reyt, S., Roques S., 2022. Identification of pekinensis Common Swift. BritishBirds, vol. 115, issue 1.

Snow, D W & Perrins, C M 1998. The birds of the Western Palearctic. Concise edition. Oxford.

Svensson, L, Grant, P J, Mullarney, K & Zetterström, D 2015. Collins bird guide. London.